Samuel, freguesia do…

“- Olá, é a tua primeira vez por estes lados?

- Olá, sim, é a primeira vez que aqui estou!

- De onde és?

- Moro em Samuel.

- Ah, Samuel…. olha lá, isso não é a freguesia do…, daquele… que está lá na igreja, tas a ver quem é??

- Sim, sim, é essa mesma, essa em que estás a pensar.”…

Pois é meus caros, é normalmente desta forma que inicio a minha apresentação a desconhecidos. Eu e grande parte dos meus conterrâneos. De facto, longe vai a fama desta freguesia, felizmente, na maioria das vezes por bons motivos, mas, também por este, em que todos ficaram a pensar. Todavia, Samuel é acima de tudo terra de gente boa, terra de campo, de floresta e rio, terra de boas águas e de excelentes iguarias gastronómicas que o seu povo ainda preserva, bem como os seus usos e tradições.

No mês da chegada de Samuel ao “Comunidades a Caminho”, vamos apresentar-nos. Ainda que estejamos geograficamente próximos das outras comunidades às quais nos vimos agora juntar, deixamos aqui alguns aspectos que para alguns serão certamente novidade.

Samuel é uma das doze freguesias do concelho de Soure. Tem uma área de cerca de 32 Km2 e uma população que ronda os 1400 habitantes, distribuídos pelas pequenas localidades de: Alagoa, Amieira, Azenha, Barreiros, Belide, Bicanho, Carcavelos, Cardal, Casais das Camarinheiras, Casalinho, Carvalhal de Azóia, Figueira de Azóia, Marco de Samuel, Moinho de Almoxarife, Palhais, Quinta de Famalicão, Samuel, Serroventoso, Souselas, Urmar, Vale do Servo.

Samuel, parece ter sido fundada pela Ordem de Cister, sendo 1258 a primeira data de referência desta freguesia, aparecendo nesta altura com a categoria de vila, juntamente com Urmar (hoje uma das suas localidades). Em 1601, data do primeiro assento de baptismo lavrado na Igreja de Samuel, terá passado a sede de freguesia. Durante muitos anos, a freguesia de Samuel terá estado anexada a concelhos como os de Montemor-o-Velho, Figueira da Foz e Verride, tendo em 1853 passado para o concelho de Soure.

Nossa Senhora das Candeias, também conhecida por Nossa Senhora da Purificação é padroeira da freguesia, estando-lhe dedicado o dia 2 de Fevereiro. Conta-se que na noite de 1 para 2 de Fevereiro, os habitantes da freguesia colocavam candeias de azeite penduradas nas oliveiras para que Nossa Senhora lhes oferecesse um ano farto em azeite. Noutros tempos, independentemente do dia da semana em que calhasse esse dia, era feriado em Samuel. Hoje, os festejos em honra da Padroeira, realizam-se sempre no fim-de-semana mais próximo da data, na Igreja Paroquial da Freguesia, que data de 1280.

Alvo de reconstruções sucessivas ao longo dos séculos, a Igreja de Samuel situa-se na localidade de Samuel, que dá o nome à freguesia. Nesta localidade apenas existem a Igreja e o cemitério. Longe vão os anos em que esta localidade foi habitada. Dentro da Igreja, destaca-se o retábulo de São Miguel e as Almas, do qual sobressai, pela sua dimensão, a imagem desse, de quem falávamos no início – o Diabo. Este altar, que suscita a curiosidade de muitos visitantes, não quer mais do que patentear a noção de que o mal deve ser reprimido, através da figura de S. Miguel, que se coloca sobre o Diabo, com uma lança espetada no seu peito. A existência deste altar, para além das curiosidades, suscitou ao longo dos anos, o aparecimento de algumas crenças e hábitos, que não colidem com a religiosidade bastante arreigada na freguesia.

Samuel é uma freguesia marcadamente rural, onde ainda hoje predominam as pequenas culturas de subsistência. Todavia, destaca-se desde há alguns anos, pela sua dimensão a produção de azeite, arroz, vinho e cereais, permitindo a algumas famílias a criação do próprio negócio.

Nos domínios empresarial e comercial, relevam-se a existência de algumas empresas, nomeadamente de construção civil (englobando pintura, carpintaria, entre outras), bem como de alguns comércios, nomeadamente mercearias e unidades de restauração.

A prestação de serviços no âmbito da Acção Social, ganhou expressão, desde que na década de 80 foi constituída a Associação Cultural Recreativa e Social de Samuel, que conta hoje com 80 trabalhadores. Esta organização desenvolve hoje Respostas Sociais no âmbito da Infância e Terceira Idade que extravasam já o âmbito da freguesia e do concelho de Soure, sendo reconhecida a nível nacional pelo trabalho desempenhado em prol da comunidade. Para além destas, desempenha também um importante papel no domínio da educação e qualificação de activos empregados e desempregados, enquanto Centro Novas Oportunidades e Entidade Formadora, com largos anos de experiência.

Pode dizer-se que a Associação de Samuel é antes de mais, uma entidade de desenvolvimento local, atenta ás necessidades da comunidade em que esta inserida.

Existem ainda outras associações na freguesia, com cariz cultural, recreativo e desportivo, que desenvolvem inúmeras actividades nas populações onde se inserem, nomeadamente: a Associação 4 de Abril do Carvalhal de Azóia, o Clube de Caçadores da Freguesia de Samuel, o Centro Cultural Recreativo e Desportivo do Moinho de Almoxarife, o Samuel Futebol Clube e o Clube Motard “Diabos de Samuel”.

São também várias as capelas existentes, cada uma com a sua comissão, que ao longo dos tempos têm mantido uma actividade regular, nas localidades de: Palhais, Carvalhal de Azóia, Carcavelos, Alagoa, Azenha, Moinho de Almoxarife, Urmar e Casais das Camarinheiras.

Esta freguesia é ainda conhecida pelas suas águas de qualidade excepcional. As Termas da Amieira e do Bicanho, já desactivadas há muitas décadas, continuam a ser um pólo de atracção para todos quantos querem encontrar solução para alguns dos seus males, nomeadamente os de pele. Estas águas, catalogadas como cloretadas- sódicas mistas, são ainda utilizadas para as infecções gastro intestinais e de rins, bem como nas “doenças de senhoras”, como era publicitado na década de 50.

Povo com muitas tradições, felizmente muitas delas recolhidas e registadas, para que não morram com o seu passado, também pela gastronomia a freguesia é sobejamente conhecida. Os petiscos cruzam-se com as características geográficas e com os costumes do povo, destacando-se desde logo, os torresmos, o serrabulho, o moado, as enguias e o arroz doce.

Para além destes aspectos, muito haveria ainda a referir sobre Samuel e as suas gentes, no entanto, o “Caminho” ainda agora está no início…

Teresa Pedrosa

Artigo Publicado no Jornal “Comunidades a Caminho”, Ano XII nº 118- 26 de Junho de 2011 Boletim das Paróquias de: Abrunheira, Carapinheira, Ereira, Montemo-o-Velho, Reveles, Samuel, Verride e Vila Nova da Barca.